Janeiro > 2015
Trecho da entrevista de Luis Stuhlberger para o jornal Valor Econômico

Foto: Silvia Costanti/Valor
Uma das histórias mais conhecidas da Bíblia conta a saga de Jó, um homem de quem Deus tirou todos os bens, a família e a saúde para testar sua fé. É a essa imagem que recorre Luis Stuhlberger, gestor do mais conhecido multimercado brasileiro, o fundo Verde, para ilustrar as provações pelas quais o investidor vai passar neste ano. “2015 vai ser o ano de Jó”, afirmou em entrevista exclusiva ao Valor, a primeira no controle da Verde Asset Management, nova gestora que nasce com R$ 30 bilhões sob gestão e o Credit Suisse como sócio minoritário. “Você tem Deus conspirando contra o Brasil: não dá água, não tem energia, os preços das commodities estão caindo, o governo aperta em 2% do PIB…”, afirma, antes de emendar a ironia: “mas vamos estar mega otimistas, porque 2016 vai ser melhor”.
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Janeiro > 2015
Trecho da entrevista de Luis Stuhlberger para o jornal Valor Econômico
O olhar global é uma vocação que Luis Stuhlberger quer fomentar na gestora que nasceu oficialmente neste mês sob seu controle, a Verde Asset Management. Está nos planos da nova casa abrir uma filial fora do Brasil, um projeto para 2016 ou 2017. A preferência é por Londres. “De lá dá para cobrir Europa, Ásia e Estados Unidos de um lugar neutro”, afirma. A intenção é montar uma estrutura pequena, com quatro ou cinco analistas, dedicados a selecionar empresas globais para os portfólios.
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Janeiro > 2015
por Daniel Leichsenring
À primeira vista, a meta de esforço fiscal foi escolhida a dedo. O número de 1,2% do PIB é baixo o suficiente para parecer crível e alto o suficiente para ser uma sinalização positiva. O mesmo pode ser dito da meta de “não menos do que 2% do PIB de 2016 em diante”.
O desafio, entretanto, é transformar um déficit primário recorrente de 0,6% do PIB num superávit de 1,2% ao longo de um ano sendo que, no mínimo, já se perderam 3 meses de arrecadação de algum aumento de imposto/contribuição – dado que estamos em janeiro e todo aumento de alíquota tem noventena até ser de fato implementado.
A tabela abaixo traz dos ajustes fiscais feitos no país desde 1998 o que se deveu à receita e o que se deveu a corte gastos, pelo Governo Federal. O maior ajuste primário de um ano para o outro foi de 1,1% do PIB de 1998 para 1999, com -0,5% do PIB de despesa e 0,6% de receita. Mas há um fator crucial: a inflação passou de 1,65% em 1998 para 8,94% em 1999 (a variação do PIB nominal foi de praticamente 4% para 9%). A aceleração da inflação foi forte, o que fez com que a corrosão real dos gastos tivesse sido importante. Sem isso, o controle de gastos não teria sido possível da maneira como foi. O mesmo vale para o que se viu em 2002/2003, quando a inflação foi buscar 17% no acumulado de 12 meses em maio/2003, para encerrar o ano em 9,3%.
Variação da Receita, Despesa e Primário (% do PIB) |
|
1998/1999 |
2002/2003 |
2006/2007 |
2010/2011* |
Receita Líquida |
0,6% |
-0,4% |
0,3% |
0,9% |
Despesa |
-0,5% |
-0,6% |
0,2% |
0,0% |
Variação do Primário |
1,1% |
0,2% |
0,1% |
1,0% |
* sem capitalização da Petrobrás
Fonte: STN, Verde Asset
Digamos que o primário tenha terminado em -0,2% do PIB em 2014. Precisaríamos de 1,4% de ajuste em 2015 (já tendo perdido mais de 2 meses de elevação de arrecadação), com o salário mínimo subindo 2,5% em termos reais (9% nominal). Convém ressaltar que o resultado de 2014 tirando as manobras fiscais teria sido algo mais próximo a um déficit de 0.6% ou 0.7% do PIB, de maneira que o esforço fiscal efetivo para 2015 teria de ser da ordem de 2% do PIB.
Nos ajustes retratados na tabela, a duração foi de 1 ano (no ano seguinte, várias das medidas de controle de gastos foram relaxadas). E o que está sendo prometido hoje é basicamente replicar em 2016 o que se espera para 2015.
Por fim – mas não menos importante – mesmo assim, o primário ficará abaixo daquele que estabiliza a dívida (!), que hoje está oscilando entre 2,5% e 3% do PIB, mais para perto de 3% dependendo das demais hipóteses. Ou seja, mesmo assim, a dívida pública continuará crescendo em percentual do PIB (ainda que a taxas decrescentes se esse esforço primário for efetivamente implementado).
No fundo, o importante é a evolução do PIB nominal (deflator mais crescimento real). Porque o governo é sócio da inflação, a arrecadação sobe com o deflator e o gasto cai em termos reais se a inflação surpreender.
Ou seja, o resumo da ópera é: a meta foi muito bem pensada. Para entregá-la, será necessário colher o pão que o diabo amassou. Para resolver mais rápido, a inflação tem de ser bem mais alta no começo, o que parece ser politicamente sensível. Cortando gastos, dado que o aumento do salário mínimo já garante crescimento forte da política de transferência de renda, conseguiremos ficar mais ou menos onde estamos, em um déficit primário de uns 0,2% do PIB. A decisão de qual nível de resultado primário nós vamos chegar depende, portanto, de qual o apetite pelo aumento da carga tributária. Dá para entregar 1,2% de primário em 2015? Sim, mas o governo vai precisar abrir o saco de maldades tributárias. E isso te leva à metade do primário necessário para estabilizar a dívida pública em percentual do PIB.
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